quinta-feira, 11 de agosto de 2011

20º Domingo do Tempo Comum - ANO A


“Ó Deus, nosso protetor,

volvei para nós o vosso olhar, e contemplai a face do vosso Ungido,

porque um dia em vosso templo vale mais do que outros mil”

(Sl. 83,10-11)



Meus queridos irmãos,

Celebramos neste domingo o dia dos Pais. Jesus veio para salvar a todos.

Na primeira Leitura – Is 56,1.6-7 – o profeta apresenta o universalismo do Templo no tempo messiânico.Logo depois do exílio, tudo está parado na Judéia. Reina a desordem social. Neste contexto social, proclama-se a proximidade da salvação. Deus ajudará: ele é justo; mas só pode ajudar se os homens colaboram e são justos também com os seus semelhantes. A esta idéia acrescenta-se um oráculo sobre a acolhida aos estrangeiros no Templo. O critério da salvação não mais será a descendência judaica, mas a fidelidade à Lei.

Caros fiéis,

Jesus, no Evangelho deste domingo(Mt 15,21-28), apresenta a grande fé da mulher pagã. Nas andanças de Jesus por sua terra natal, ele não apenas dominou as forças do mar. Jesus fez algo que, talvez, era bem mais difícil: ultrapassar as fronteiras humanas, fronteiras de raça, de religião e de preconceito. A narração do episódio da Cananéia está cheio de detalhes que nos enriquecem na reflexão litúrgica. Jesus caminha pelo território pagão, na região de Tiro e de Sidon. Por conseguinte é normal encontrar nesta região uma mulher Cananéia, que é habitante deste lugar, que não professa a religião dos israelitas. É importante ter presente todo o precedente histórico dos cananeus e dos israelitas: sempre foram inimigos. Entretanto, o grande sinal que o Evangelho ressalta é que a mulher Cananéia, que não entendia nada da Religião Judaica, chama Jesus de “Filho de Davi”, que é um título messiânico israelita por excelência. A mulher Cananéia está tão angustiada que ela se humilha até invocar o Messias dos israelitas. Aqueles que acompanham Jesus, os seus discípulos, não vêem neste diálogo da Cananéia com Jesus nada de digno e pedem que Jesus dispense ou mande embora a Cananéia.

Mas, qual foi à atitude de Jesus? Numa mensagem dirigida aos discípulos e a Cananéia Jesus insiste em seu messianismo: “Eu fui enviado para todas as ovelhas e não só para as eleitas, mas para as ovelhas perdidas de Israel”. Isso tem um duplo significado: que Jesus quer acolher a todos, israelitas e não israelitas, demonstrando que a salvação veio para todos sem distinção e que os apóstolos e discípulos devem ser os primeiros a aceitar o irmão que não está na Igreja, que não caminha na comunidade, porque na Igreja de Cristo há lugar para todos.

A novidade da pregação de Jesus é que Ele foi enviado para pregar o Reino de Deus a um povo pequeno, para realizar uma esperança limitada nos seus termos, ilimitada, porém, no seu significado: é o que aconteceu no episódio de hoje. Jesus é o Messias de Israel. É o que a mulher proclamou e anunciou. Portanto, ela estabeleceu uma plataforma de conversa, apesar de os ciumentos discípulos não gostarem disso. Jesus então, em vez de rejeitar a Cananéia, por sua resposta lhe dá razão diante dos discípulos, mas, ao mesmo tempo, a provoca ainda para maior confiança, pois ela não é israelita. Se a mulher Cananéia expressou a consciência de que Jesus é o Messias de Israel, agora ela deverá dar mais um passo. E com a irresistível simplicidade de uma mãe preocupada, ela pergunta: “Não ganham os cachorrinhos às migalhas que caem da mesa dos filhos?” Jesus a congratula com sua grande fé e cura seu filho, pois ela fez o que Jesus quis provocar: derrubou as fronteiras do messianismo nacionalista de Israel.

Queridos irmãos,

Jesus quis transpor as fronteiras de Israel, isto porque o Reino de Deus não tem porteiras. Mas para que isso acontecesse aqueles que acompanhavam o Mestre tinham que transgredir as fronteiras que tinham demarcado dentro do seu coração e de seus conceitos. É preciso sempre dar um passo a mais, é preciso sempre ter a atitude da mulher Cananéia que, confiante na graça de Deus, anunciou que Jesus é o Messias, o Salvador.

A salvação e o Reino de Deus nunca foi pregado como um privilégio do povo eleito de Israel. O povo de Deus é todos os homens e mulheres que aderem ao seguimento de Cristo. A salvação é universal. A primeira leitura de hoje traz uma página magnífica a respeito disso: universalismo salvífico onde Jerusalém está no centro: o Templo será a casa de oração para todos os povos; aos estrangeiros é permitido se unirem aos costumes de Israel. Jesus estendeu seu universalismo aonde houvesse fé, longe de Jerusalém e seu Templo. No coração de cada um está “a casa de oração para todos os povos”.

Caros amigos,

A Segunda Leitura, retirada da Carta aos Romanos 11,12-15.29-32, anuncia a pergunta se Israel ficou agora excluído da salvação?

Devemos de início, afirmar que a vocação de Israel é irrevogável. Israel não correspondeu a sua eleição e nos seus privilégios. Mas isso não significa que Deus desistiu de suas promessas: primeiro um resto de Israel já se salvou, por exemplo, o próprio Paulo; segundo Deus aplica uma pedagogia “sui generis”, inclui todos na desobediência, para incluir na sua misericórdia também; terceiro, vendo os gentios aceitar a misericórdia de Deus, os judeus ficarão com ciúmes e acolherão também. O importante é que Israel seja salvo, não por causa de seus “privilégios”, mas pela misericórdia de Deus, assim como os pagãos.

Paulo, na sua lúcida e madura vida de fé anuncia que Deus é fiel à sua promessa, raciocina do seguinte modo: Deus não repudiou seu povo, mas realizou sua promessa num pequeno resto. Os outros israelitas tropeçaram. Mas não definitivamente, pois Deus foi astuto: deixou os outros tropeçarem para que, vendo os pagãos acolherem a salvação, se enchessem de ciúme e se salvassem também. Depois, apresenta a maravilhosa alegoria da oliveira selvagem e da oliveira doméstica. Esta última é Israel. Alguns de seus ramos foram cortados fora, para que fossem enxertados ramos de uma oliveira selvagem: os pagãos. Alimentem-se com a seiva da raiz boa, as promessas feitas a Israel. Deus concederá misericórdia aos que crerem, porque em Cristo, todos os seres humanos, independentemente de raça ou de cultura, são salvos pela ação da misericórdia divina.

Caros fiéis,

As nossas relações, muitas vezes, infelizmente, não são marcadas pelo universalismo que advém do Evangelho. As barreiras de raça, cor, riqueza, cultura, religião, poder, condição social... estão claramente presentes de maneira escandalosa no mundo cristão, ao ponto de afirmar que o escandalosamente o Evangelho anunciado e pregado não é vivido.

Estimados irmãos,

Celebramos neste domingo o dia dos pais. E junto a esta cândida e merecida celebração queremos iniciar, em união com toda a Igreja no Brasil, as reflexões da Semana Nacional da Família. Em dias turvos como os que vivem a Nação Brasileira a Igreja quer valorizar a família, tendo em vista que na família se manifesta a verdadeira justiça e paz que vem de Deus e se fundamenta na misericórdia, na acolhida e na compaixão. Deus quer bem aos nossos queridos pais, sejam eles vivos ou já na visão beatífica. A nossa família, por mais simples ou mais sofisticada que seja, é a melhor família do mundo e aí está o cerne da Igreja doméstica. Que Deus, pai das misericórdias, cujo amor se derrama com largueza por toda a humanidade, abençoe todos os nossos pais, para que eles se comprometam com uma vida autenticamente cristã. Amém!


Por: Padre Wagner Augusto Portugal











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terça-feira, 9 de agosto de 2011

19º Domingo do Tempo Comum - ANO A


“Considerai, Senhor, vossa aliança,

e não abandoneis para sempre o vosso povo.

Levantai-vos, Senhor, defendei vossa causa,

e não desprezeis o clamor de quem vos busca.”

(cf. Sl 73,20.19.22s)


Meus irmãos,

Estamos celebrando neste domingo a vitória de Cristo sobre o mundo. Não podemos ter medo de vivenciar o seguimento cristão e cada um de nós é convidado a deixar a vivência pastoral pessoal e anunciar o evento evangelizador. Abandonar o comodismo e vivenciar o anúncio da mensagem evangélica que é sempre atual, questionadora, e, mais do que tudo isso, parte de uma mudança radical da vida da própria pessoa.

Por isso, todos nós somos convidados a enxergar Deus nas coisas pequenas e simples da vida quotidiana. Apesar da violência humana, Deus está naquilo que significa paz e refrigério.

Deus não está na tempestade(1Rs 19,9a.11-13a). Elias venceu os sacerdotes de Baal no monte Carmelo, invocado sobre eles o fogo do céu. Mas Deus lhe faz experimentar que o zelo não é sempre vitorioso e sua vocação não é a violência contra os homens, mas o serviço paciente. Elias, perseguido por Jezabel, fica sem força e foge até o Horeb. E aí Deus lhe fala, porém, não nos elementos violentos – tempestade, terremoto,fogo, mas na brisa mansa.

Dentro da brisa mansa, Ele confia a Elias uma nova missão, que é manifestada pela tempestade. A religiosidade mágica facilmente acredita que Deus se manifesta na tempestade. Mas Javé se manifesta acalmando a tempestade. Assim, ele se manifestou em Cristo, aos olhos dos Apóstolos, que estavam lutando contra o vento, no barco do lago de Genesaré.

Por detrás de tudo isso, está a mitologia: o mar era o domínio de Leviatã, o monstro marinho, uma vez considerado como um deus, mais tarde, desmistificado até anjo ou diabo. A tempestade era a força do inimigo, acreditavam ainda os supersticiosos pescadores galileus.

Irmãos e Irmãs,

Jesus se escondera no deserto, logo que soube da morte de João Batista. Havia perigo para o Divino Salvador. A multidão correu ao deserto atrás dele. Jesus teve compaixão dos peregrinos e multiplicou o pão. O povo, feliz e entusiasmado com a multiplicação dos pães, entusiasmou-se e quis proclamá-lo Rei. O momento era conflitante e profundamente delicado. Não era chegada a hora do Filho do Homem, porque Ele não viera para um reinado terreno. As coisas de Deus não podem ser confundidas com as coisas da política partidária dos homens. Por isso, coube ao próprio Jesus dispensar a multidão.

No Evangelho deste domingo (cf. Mt 14,22-33) Jesus chegou aos discípulos que estavam na barca, depois que Ele despediu a multidão e foi rezar, andando sobre as águas. Isso foi uma demonstração aos seus mais próximos da grandiosidade de sua missão, que era exercida a mandado do Pai dos Céus. Jesus que andou sobre as águas é maior do que a maldade e tem o poder de “fazer da fossa surgir à vida” (cf. Jn 2, 7). Basta uma ordem dele e o peixe deixou Jonas em terra firme (cf. Jn 2,11), podendo cumprir a vontade de Deus de purificar os ninivitas.

Há um plano de salvação por parte do Pai dos Céus. Jesus foi mandado ao mundo para dar pleno cumprimento deste projeto de salvação, conforme nos ensina São João 4,34. Entretanto, as forças do mal podem agir e reagir. Mesmo assim, o plano será cumprido na sua integralidade. Nenhuma porta do inferno levará vantagem, tendo em vista que Deus está conduzindo a sua Igreja pelos caminhos da História.

É grandiosamente imenso o contraste entre o medo de um fantasma diabólico e a confiança de Pedro ao ouvir a voz de Jesus, que vinha caminhando sobre as ondas. Para Jesus é mais importante a confiança de Pedro do que o medo. No meio das dificuldades quotidianas da vida, é importante a comunidade substituir o medo pela partilha.

Pedro, que teve a coragem de atirar-se às ondas encrespadas, ficou com medo do vento.

Meus irmãos,

Jesus multiplica o pão, o que foi motivo de grande contentamento e de admiração por parte do povo presente. A cena de Pedro o demonstra. A fé verdadeira pressupõe a humilde confiança e a humildade confiante, sem nenhuma exigência de milagres ou comprovações.

Os apóstolos, reverentes, de joelhos comprovam o Senhorio de Jesus e a confiança daqueles que devem anunciar o seu projeto de Salvação: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”(cf. Mt 14,33).

A humildade de fazer a genuflexão, como se fosse para beijar os pés de Jesus, ou para adorá-Lo, é uma manifestação de quem reconhece ser Jesus, o dono da vida e do nosso destino. Essa deve ser a atitude do cristão, no seu comportamento diário, de não procurar milagres, mas ter uma fé autêntica, abalizada nas Sagradas Escrituras, levando adiante aquilo que o próprio Jesus disse: “Não tenha medo, creia, e venha ao Seguimento do Senhor!”.

Meus irmãos,

Paulo, na segunda leitura (cf. Rm 9,1-5), confessa sua paixão para com o povo de Israel, do qual ele é membro. O Apóstolo mesmo gostaria de ser condenado se, com isso, os seus irmãos judeus tivessem a salvação, conforme nos ensina Rm 9,3. Palavra forte, mas que não era mero exagero: Paulo sabia que seria impossível que eles estivessem pura e simplesmente perdidos. O plano de salvação vale para os judeus também, mesmo se aparentemente tenha sido passado adiante aos gentios. Com isso, podemos concluir da confiança que Paulo tem no plano de Deus, que ele pode dizer a nós hoje: se Israel for totalmente rejeitado, então, eu também!

O Evangelho salva todo o que crê: primeiro o judeu, depois o grego(cf Rm 1,16). Os judeus têm sido privilegiados(cf Rm 3,1). Eles têm até o Messias. E, contudo, parece que não se verifica sua salvação, pois não tem a fé no Evangelho de Cristo.

Caros fiéis,

Ser cristão é ser voltado para a acolhida e para o entendimento do Deus da Brisa Mansa, que anda sobre as águas e leva para o mundo o testemunho inequívoco da necessidade de depositar nas mãos de Deus a confiança de nossa vida de fé. Vida de fé que o PAI DAS BEM-AVENTURANÇAS do céu abençoa e encaminha os pais da terra que tem o grave dever de nos fazer mais santos e imaculados, como o SENHOR DEUS fez ao enviar a Salvação por Jesus Cristo ao gênero humano!


Por: Padre Wagner Augusto Portugal

domingo, 31 de julho de 2011

18º Domingo do Tempo Comum - ANO A


“Meu Deus, vinde libertar-me,

apressai-vos, Senhor, em socorrer-me.

Vós sois o meu socorro e o meu libertador,

Senhor, não tardeis mais.”

(cf. Sl 69,2.6).


Meus irmãos,

Jesus nos convida hoje a repartir o pão da palavra e o pão do alimento diário, nesta nossa peregrinação rumo ao Reino das Bem-aventuranças.

A Primeira Leitura, retirada do profeta Isaías 55,1-3, traz o convite do Senhor Deus para o banquete messiânico, oferecido aos que não têm dinheiro para comprar. Essa Leitura faz-nos, ainda, entender melhor o sentido da Multiplicação dos Pães segundo o Evangelho hodierno (cf. Mt 14,13-21). Isaías apresenta o convite para o banquete messiânico. Is 55 é a conclusão do “Segundo Isaías”- as profecias da escola de Isaías durante o Exílio Babilônico. O povo no Exílio é representado como faminto e sedento – as carências daquele outro exílio, o êxodo do Egito, ao qual o Exílio muitas vezes é assemelhado. Mas é fome e sede do Deus vivo e próximo – falta-lhes o Templo. Estão no perigo de se contentar com um sucedâneo: os deuses da Babilônia. Mas nenhum ídolo, pago com ouro ou prata, pode aliviar a sede do Deus vivo.

Irmãos Caríssimos,

Chegamos hoje no centro do “discurso eclesial” pronunciado por Nosso Senhor Jesus Cristo. O Divino Mestre reparte o pão entre os seus. Essa seria uma missão fundamental da Santa Igreja Católica, como tão bem vem demonstrada a ação evangelizadora da Igreja no Brasil, desde que lançou o Mutirão para a Superação da Miséria e da Fome, inspirando-nos permanentemente a repartir o pão nosso de cada dia, particularmente, entre os excluídos da sociedade individualista dos dias atuais.

O pão e a carne eram os alimentos comuns do povo e da região de Jesus. Eram o nosso arroz com feijão, feito de tantas maneiras e com tanto carinho pelas mães e cozinheiras deste abençoado País.

Naquele tempo, a maioria do povo comia pão de cevada. O pão de trigo era luxo. Os pães eram grandes, achatados e quase sempre com um buraco ao centro, que permitia pendurá-los em varas, como se penduram, no Sul do Brasil, as roscas de polvilho.

Ao escolher o pão como matéria do sacramental central do Novo Testamento, Jesus escolheu o alimento mais comum e encontradiço entre o povo. Mas também o alimento mais rico de significados sociais e espirituais. “Comer o pão com alguém” significava fazer com ele uma aliança. Daí a exclamação de um convidado a um banquete, numa parábola de Jesus: “Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus”, isto é, feliz aquele que participa da aliança com Deus, da amizade, da intimidade de Deus!

Antes da última Ceia, Jesus se dissera o “pão descido do céu”, o “pão da vida” e ensinara a seus Apóstolos a pedir o pão a Deus, isto é, pedir-lhe o sustento do corpo e do espírito, pedir-lhe a amizade e a presença benfazeja.

Ao meditarmos a Multiplicação dos Pães podemos concluí-lo, também, como uma prefiguração da Santa Eucaristia. Foi um milagre estupendo multiplicar cinco pães e dois peixes de tal forma que fossem alimentados mais de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças, narra-nos o Evangelista. Jesus o fez por misericórdia; teve pena daquele povo que viera de longe para ouvi-Lo.

A instituição da Sagrada Eucaristia também foi por misericórdia. “Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (cf. Mt 28,20). Sim, alimentando a todos que o seguem, que o ouvem, presente no Sacramento do Altar, no Sacramento de Amor, renovando sua imolação para resgatar-nos dos grilhões do pecado. Isso para, como nos ensina o Doutor Angélico, por meio de Seu corpo glorioso, de Seu sangue adorável, unidos à Sua alma e divindade, prepararmo-nos para o banquete mais augusto e mais substancial que jamais houve.

É o Divino Amigo que nos assegura que “se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos” (cf. Jo 6,53). É Nosso Senhor, ainda, quem teria dito a Santo Agostinho: “Quando me recebes, não és tu que me mudas e me fazer viver por ti, mas sou eu que te mudo e te faço viver por mim”.

Na Segunda Leitura de hoje, Romanos 8, 35.37-39, a exposição sobre a salvação pela graça de Deus e a fé em Jesus Cristo é evidenciada e compreendemos bem essa manifestação ao Santo Bispo de Hipona. Paulo, o apóstolo das gentes, termina sua exposição com uma efusiva proclamação de fé e confiança na obra de Deus em Jesus Cristo. “Se Deus é conosco quem será contra nós? Quem nos condenará? Quem nos separará do amor de Cristo?” Nada nos pode separar do amor de Cristo. Todos precisamos de redenção, diz São Paulo, e ela nos é dada em Cristo, que nos introduz na vida do Espírito. Ao fim desta secção, seu pensamento se torna efusivo, proclamando a certeza de vencer os poderes que poderiam desfazer a obra; não o poderão! Esta certeza não vem de raciocínios ou provas escriturísticas; ela é a convicção de quem já a experimenta. A experiência da fé é mais forte que o que se costuma chamar a realidade.

A liturgia de hoje nos convida a ler no sinal do pão uma revelação da compaixão, do terno amor de Deus para conosco, que se revelou piedosamente no dom de seu Filho, do qual o pão também se tornou o sinal sacramental.

Padre Luís Brochain, um dos discípulos de Santo Afonso de Ligório, atenta-nos que, na Eucaristia, “Jesus nos comunica então a sua própria vida; o seu espírito transfunde-se em nós e nos dirige em todos os caminhos; a sua imaginativa cura a nossa da sua dissipação habitual ao recolhimento; a sua santa vontade enobrece os nossos sentimentos, purifica os nossos afetos e eleva os nossos desejos acima do mundo criado; ajuda-nos a fugir das menores infidelidades e a nos exercer em todas as virtudes”.

Num arroubo de contemplação, São Ruperto nos diz que, desta forma, pela Eucaristia, “nós nos tornamos pela graça o que Jesus é pela natureza, isto é, santos e agradáveis a Deus”. Conscientizemo-nos disso, então, e procuremos nossa santificação por meio da prática dos sacramentos, principalmente participando com freqüência, devidamente preparados, da Sagrada Comunhão. Desta forma, além de nos unirmos intimamente com Jesus, seremos também como frascos de fragrância que esparzir o olor das virtudes, com nossa conduta, em nossa convivência familiar, na comunidade, no trabalho, como lídimos cristãos. Assim, estaremos partilhando o Pão da Palavra, orientados e alimentados pelos Evangelhos, indicando o caminho do Pão Eucarístico a tantos que se encontram desnorteados neste mundo de tantas opções, de muitos atrativos, de inúmeras seduções...

Caros irmãos,

A participação no pão da vida se manifesta traduzindo-se necessariamente na vontade firme de tentar tudo a fim de que os famintos sejam saciados, os que têm sede possam beber, os que estão nus possam vestir-se. A participação na ceia eucarística se torna, para o cristão, fonte de um esforço de promoção humana no qual todos e cada um sejam reconhecidos em sua dignidade fundamental de pessoas, no sentido de uma só grande família.

Irmãos,

Que todos nós saibamos partilhar o pão, como partilhamos a nossa fé, que é comunitária. Absolutamente nada impede que Deus nos ame, a não ser que nós também não amemos. Amor é partilha. Partilha é acolhimento, é estar com, é fazer refeição com o irmão.

Que este imenso país continental, tão rico de comida, mas tão pobre de partilha, seja evangelizado para que o pobre tenha comida e, mais do que comida, dignidade, para que todos aprendam a repartir os dons e os bens, a exemplo de Jesus que todos os dias é oferecidos em favor de nossas vidas e de nossa salvação.



Por: Padre Wagner Augusto Portugal












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sexta-feira, 22 de julho de 2011

17º Domingo do Tempo Comum - ANO A


“Deus habita em seu templo santo,

reúne seus filhos em sua casa;

é ele que dá forças e poder a seu povo.”

(cf. Sl 67,6s.-36s.)


Irmãos e Irmãs,

Nos tempos em que a Santa Igreja coloca os pobres no centro da atenção pastoral, resgatando a sua dignidade, atentamo-nos tanto para essa triste realidade de alguns desafortunados que corremos o risco de nos esquecer do exemplo de algumas pessoas ricas, como o caso o rei Salomão. Ele não pediu a Deus riqueza, e sim sabedoria, isto é, o dom de distinguir entre o bem e o mal (cf. 1Rs 3,5ss). Neste sentido, Salomão prefigura o negociante da parábola da pérola, homem de bem, mas perspicaz: arrisca tudo o que tem num investimento melhor.

Por isso na Primeira Leitura Salomão não pede riqueza,mas sabedoria. Quando de sua romaria a Gabaão, no começo de seu reinado, Salomão pede a Deus a sabedoria, isto é, o dom de acertar na hora de julgar e de decidir – na Bíblia segue imediatamente uma história para exemplificar este dom. O próprio fato de não pedir outra coisa já mostra sua sabedoria. Assim mesmo, Deus lhe deu, além da sabedoria, algumas coisas menos importantes de brinda como riqueza, fama e longa vida.

Meus irmãos e minhas irmãs,

Estamos caminhando no Tempo Comum, refletindo neste domingo a necessidade de procurar viver o seguimento do Senhor (cf. Am 5,6). Nesse sentido, a Liturgia nos leva a refletir da necessidade de nos desfazermos de tudo o que possuímos para adentrar na realização do projeto do Reino de Deus entre nós(cf. Mt 1`3,44-52 ou 13,44-46)

O Reino de Deus para Jesus é tão significativo na vivência do seguimento cristão que tudo aquilo que está ao largo passa a ser considerado “resto”.

O Evangelista São Mateus nos coloca duas parábolas no Evangelho de hoje, em que fala de dois homens, um lavrador e um comerciante, que trabalham, procuram, encontram, compram e vendem... todas essas atividades que as pessoas comuns praticam no quotidiano de suas vidas. O que nos retém, entretanto, na mente em importância sintática são as palavras tesouro e pérola. Tesouro e pérola, numa alusão à sabedoria que é colocada pelo Antigo Testamento, para se aproximar da figura que se tornou realidade, chamada REINO DOS CÉUS.

Irmãos e Irmãs,

Continuamos nossa caminhada de fé estudando e degustando os significados quotidianos da palavra de Jesus que nos chega, pelo terceiro domingo consecutivo, pelas figuras de linguagem presentes nas parábolas descritas no capítulo 13 do Evangelista Mateus. Parábolas que contêm símbolos e comparações. É difícil falar das coisas de Deus em palavras, daí a necessidade de recorrermos tantas vezes a símbolos e comparações, exatamente como fez Jesus.

O Reino dos Céus, da forma como nos expõe o Evangelho deste domingo, refere-se à presença ativa de Deus, embora sempre misteriosa, no mundo e entre as criaturas humanas. Trata-se de um modo de viver, aqui e agora, na presença divina, invisível, mas, de certo modo, sensível por seus sinais.

Devemos que ter presente um comportamento consciente e conseqüente que constrói a vida segundo o modelo da própria vida de Jesus na terra. Os dois homens, ambos da vida de cada dia, ou seja, o agricultor e o comerciante, não fazem nada de extraordinário, concorrendo apenas para encontrar um tesouro ou descobrir uma pérola, porque o Reino de Deus não é um privilégio, mas uma conquista de caridade, de misericórdia e de perdão.

Irmãos e Irmãs,

Jesus coloca que o “Reino dos Céus é um tesouro, que se busca com justiça e santidade”, como algo que provém do Divino Salvador. O Evangelho deste domingo ensina que o Reino de Deus vale mais do que todos os outros bens que um homem possa ter, como terras, carros, propriedades, nomes e sobrenomes famosos. Para se conquistar o Reino de Deus, vale a pena desfazer-se de tudo o que se tem. Não importa se temos muito ou pouco. Importa, entretanto, é que se troque tudo pelo Reino de Deus, deixando tudo que oprime ou escraviza de lado.

O lavrador conseguiu grande alegria porque consegui o Reino dos Céus.

A parábola da pedra preciosa nos é apresentada com o mesmo significado da parábola do tesouro: a procura da graça de Deus, do reino das bem-aventuranças. Por isso, todos nós somos convidados, com insistente pedido, a procurar “o Reino dos Céus em primeiro lugar” (cf. Mt 6,33). Essa busca é colocada com o mesmo empenho em que o Filho de Deus veio “buscar o que estava perdido” (cf. Lc 19,10), pelo que todos nós somos convidados a lançar as redes mais profundas e voltar nossas ações, pensamentos e atitudes para o Reino das Bem-aventuranças.

Busca difícil!

Mas Deus, que agregou a si até o pecado, perdoando os pecadores, é quem nos dá força para buscar as coisas do Alto, com amor e compreensão. Quanto mais perto da pessoa amada se chega, tanto maior ela se torna. E quanto mais compreendemos um assunto, mais extenso e mais profundo se nos depara. “Estou onde está o meu pensamento – nos diz a Imitação de Cristo – e o meu pensamento, de ordinário, está onde está o que amo” (cf. Livro III cap. 48, 5). Logo, se nos deixamos seduzir pelo amor e a compreensão divinas, estaremos sempre unidos a Deus.

O Reino de Deus tem valor infinito e nenhuma jóia tem algum valor perante a grandiosidade da misericórdia do Reino das Bem-aventuranças. Mas, para alcançarmos essa bem-aventurança, temos que abominar o pecado e acolher o pecador, ter capacidade de desprendimento, de perdão, de solidariedade, de amizade, de recomeçar, de caminhar juntos, de amar e de servir, dentro da dialética do Reino de Deus. Em suma, temos que relativizar todos os bens do mundo e valorizar os bens do Céu, cujo mandamento máximo é o seguinte: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

Irmãos e Irmãs,

Observando a Segunda Leitura desta Celebração, encontramos um dos textos maiores da Carta aos Romanos(cf. Rm 8,28-30). Mostra-nos Deus que, como um bom empreiteiro, faz todo o necessário para o bem daqueles que O amam, levando a termo a execução de seu “desenho”. De antemão, Ele conheceu os que queria edificar, como um arquiteto tem sua obra na cabeça; Ele os projetou conforme o protótipo: Jesus mesmo, seu filho querido, com quem ele gostaria que todos se assemelhassem.

E aos que assim planejou, também os escolheu, os justificou e, arrematando sua obra, os glorificou. Como bom empreiteiro, Deus faz tudo o que for preciso para arrematar a salvação naqueles que se dispõem para ela. E, mais ainda, como conhece o coração de cada um, Ele também perscruta os que se prestam à salvação e os que não se dispõem a participar de sua obra de misericórdia.

Os conceitos conhecer – destinar – chamar – justificar – glorificar: as fases da arrematação do homem por Deus. É uma obra de artista. O protótipo é Jesus Cristo mesmo: o primogênito dos mortos. O Espírito já nos tornou filhos. Agora é só levar a termo a obra de arte já empeçada. E o distintivo do cristão é que ele tem consciência de ser esta obra.

Caros fiéis,

A evangelização esforça-se por inserir-se cada vez mais profundamente na vida, na situação e na cultura humana; mas se inclina a transferir para um futuro não facilmente previsível o convite à conversão, a pregação do Evangelho, a proposta de uma inserção plena na Igreja, por respeito aos tempos de maturação e aos ritmos lentos de conversão. O perigo está numa falsa concepção da missão da Igreja, e na inconsistente tentativa de reduzir a dimensão do cristianismo.

Quem optar por acentuar a linha escatológica desta Liturgia, nunca se esqueça que nenhum bem terreno deve impedir o nosso desejo de salvação. A alegria do Reino poderá não ser a alegria que o mundo propõe. Entrar no Reino dos Céus nos faz lembrar as palavras de Santa Paulina: “Há anos não gozo tanta paz como agora, embora o Senhor mande sempre alguma coisa para sofrer, como a sujeição nos ofícios etc, mas tudo é suavizado pela caridade. Enfim, Deus seja bendito em todas as coisas”.

Investir no Reino de Deus é amar, servir e perdoar, do contrário nos espera o Reino das Trevas....



Por: Padre Wagner Augusto Portugal











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