“Ó Deus, nosso protetor,
volvei para nós o vosso olhar, e contemplai a face do vosso Ungido,
porque um dia em vosso templo vale mais do que outros mil”
(Sl. 83,10-11)
Celebramos neste domingo o dia dos Pais. Jesus veio para salvar a todos.
Na primeira Leitura – Is 56,1.6-7 – o profeta apresenta o universalismo do Templo no tempo messiânico.Logo depois do exílio, tudo está parado na Judéia. Reina a desordem social. Neste contexto social, proclama-se a proximidade da salvação. Deus ajudará: ele é justo; mas só pode ajudar se os homens colaboram e são justos também com os seus semelhantes. A esta idéia acrescenta-se um oráculo sobre a acolhida aos estrangeiros no Templo. O critério da salvação não mais será a descendência judaica, mas a fidelidade à Lei.
Caros fiéis,
Jesus, no Evangelho deste domingo(Mt 15,21-28), apresenta a grande fé da mulher pagã. Nas andanças de Jesus por sua terra natal, ele não apenas dominou as forças do mar. Jesus fez algo que, talvez, era bem mais difícil: ultrapassar as fronteiras humanas, fronteiras de raça, de religião e de preconceito. A narração do episódio da Cananéia está cheio de detalhes que nos enriquecem na reflexão litúrgica. Jesus caminha pelo território pagão, na região de Tiro e de Sidon. Por conseguinte é normal encontrar nesta região uma mulher Cananéia, que é habitante deste lugar, que não professa a religião dos israelitas. É importante ter presente todo o precedente histórico dos cananeus e dos israelitas: sempre foram inimigos. Entretanto, o grande sinal que o Evangelho ressalta é que a mulher Cananéia, que não entendia nada da Religião Judaica, chama Jesus de “Filho de Davi”, que é um título messiânico israelita por excelência. A mulher Cananéia está tão angustiada que ela se humilha até invocar o Messias dos israelitas. Aqueles que acompanham Jesus, os seus discípulos, não vêem neste diálogo da Cananéia com Jesus nada de digno e pedem que Jesus dispense ou mande embora a Cananéia.
Mas, qual foi à atitude de Jesus? Numa mensagem dirigida aos discípulos e a Cananéia Jesus insiste em seu messianismo: “Eu fui enviado para todas as ovelhas e não só para as eleitas, mas para as ovelhas perdidas de Israel”. Isso tem um duplo significado: que Jesus quer acolher a todos, israelitas e não israelitas, demonstrando que a salvação veio para todos sem distinção e que os apóstolos e discípulos devem ser os primeiros a aceitar o irmão que não está na Igreja, que não caminha na comunidade, porque na Igreja de Cristo há lugar para todos.
A novidade da pregação de Jesus é que Ele foi enviado para pregar o Reino de Deus a um povo pequeno, para realizar uma esperança limitada nos seus termos, ilimitada, porém, no seu significado: é o que aconteceu no episódio de hoje. Jesus é o Messias de Israel. É o que a mulher proclamou e anunciou. Portanto, ela estabeleceu uma plataforma de conversa, apesar de os ciumentos discípulos não gostarem disso. Jesus então, em vez de rejeitar a Cananéia, por sua resposta lhe dá razão diante dos discípulos, mas, ao mesmo tempo, a provoca ainda para maior confiança, pois ela não é israelita. Se a mulher Cananéia expressou a consciência de que Jesus é o Messias de Israel, agora ela deverá dar mais um passo. E com a irresistível simplicidade de uma mãe preocupada, ela pergunta: “Não ganham os cachorrinhos às migalhas que caem da mesa dos filhos?” Jesus a congratula com sua grande fé e cura seu filho, pois ela fez o que Jesus quis provocar: derrubou as fronteiras do messianismo nacionalista de Israel.
Queridos irmãos,
Jesus quis transpor as fronteiras de Israel, isto porque o Reino de Deus não tem porteiras. Mas para que isso acontecesse aqueles que acompanhavam o Mestre tinham que transgredir as fronteiras que tinham demarcado dentro do seu coração e de seus conceitos. É preciso sempre dar um passo a mais, é preciso sempre ter a atitude da mulher Cananéia que, confiante na graça de Deus, anunciou que Jesus é o Messias, o Salvador.
A salvação e o Reino de Deus nunca foi pregado como um privilégio do povo eleito de Israel. O povo de Deus é todos os homens e mulheres que aderem ao seguimento de Cristo. A salvação é universal. A primeira leitura de hoje traz uma página magnífica a respeito disso: universalismo salvífico onde Jerusalém está no centro: o Templo será a casa de oração para todos os povos; aos estrangeiros é permitido se unirem aos costumes de Israel. Jesus estendeu seu universalismo aonde houvesse fé, longe de Jerusalém e seu Templo. No coração de cada um está “a casa de oração para todos os povos”.
Caros amigos,
A Segunda Leitura, retirada da Carta aos Romanos 11,12-15.29-32, anuncia a pergunta se Israel ficou agora excluído da salvação?
Devemos de início, afirmar que a vocação de Israel é irrevogável. Israel não correspondeu a sua eleição e nos seus privilégios. Mas isso não significa que Deus desistiu de suas promessas: primeiro um resto de Israel já se salvou, por exemplo, o próprio Paulo; segundo Deus aplica uma pedagogia “sui generis”, inclui todos na desobediência, para incluir na sua misericórdia também; terceiro, vendo os gentios aceitar a misericórdia de Deus, os judeus ficarão com ciúmes e acolherão também. O importante é que Israel seja salvo, não por causa de seus “privilégios”, mas pela misericórdia de Deus, assim como os pagãos.
Paulo, na sua lúcida e madura vida de fé anuncia que Deus é fiel à sua promessa, raciocina do seguinte modo: Deus não repudiou seu povo, mas realizou sua promessa num pequeno resto. Os outros israelitas tropeçaram. Mas não definitivamente, pois Deus foi astuto: deixou os outros tropeçarem para que, vendo os pagãos acolherem a salvação, se enchessem de ciúme e se salvassem também. Depois, apresenta a maravilhosa alegoria da oliveira selvagem e da oliveira doméstica. Esta última é Israel. Alguns de seus ramos foram cortados fora, para que fossem enxertados ramos de uma oliveira selvagem: os pagãos. Alimentem-se com a seiva da raiz boa, as promessas feitas a Israel. Deus concederá misericórdia aos que crerem, porque em Cristo, todos os seres humanos, independentemente de raça ou de cultura, são salvos pela ação da misericórdia divina.
Caros fiéis,
As nossas relações, muitas vezes, infelizmente, não são marcadas pelo universalismo que advém do Evangelho. As barreiras de raça, cor, riqueza, cultura, religião, poder, condição social... estão claramente presentes de maneira escandalosa no mundo cristão, ao ponto de afirmar que o escandalosamente o Evangelho anunciado e pregado não é vivido.
Estimados irmãos,
Celebramos neste domingo o dia dos pais. E junto a esta cândida e merecida celebração queremos iniciar, em união com toda a Igreja no Brasil, as reflexões da Semana Nacional da Família. Em dias turvos como os que vivem a Nação Brasileira a Igreja quer valorizar a família, tendo em vista que na família se manifesta a verdadeira justiça e paz que vem de Deus e se fundamenta na misericórdia, na acolhida e na compaixão. Deus quer bem aos nossos queridos pais, sejam eles vivos ou já na visão beatífica. A nossa família, por mais simples ou mais sofisticada que seja, é a melhor família do mundo e aí está o cerne da Igreja doméstica. Que Deus, pai das misericórdias, cujo amor se derrama com largueza por toda a humanidade, abençoe todos os nossos pais, para que eles se comprometam com uma vida autenticamente cristã. Amém!
Por: Padre Wagner Augusto Portugal
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