segunda-feira, 7 de março de 2011

Quarta-feira de Cinzas


“Ó Deus, vós tendes compaixão de todos
e nada do que criastes desprezais:
perdoais nossos pecados pela penitência
porque sois o Senhor nosso Deus”
(cf. Sb. 11,24s.27).



Meus queridos Irmãos,

Com a Quarta-Feira de Cinzas, inicia-se o tempo da Quaresma. São quarenta dias, de um grande retiro de penitência e conversão, que vai até a 4a. feira Santa. Na solenidade de Cinzas o tema central é a PENITÊNCIA. A Liturgia insiste, hoje, na autenticidade da penitência, como “rasgar o coração, não apenas as vestes”, como anuncia a Primeira Leitura, retirada da Profecia de Joel(cf. Jl 2,12-18). Também, a Liturgia ressalta o caráter interior do jejum, juntamente com as outras “boas obras”, como a esmola e a oração, conforme o ensinamento do Evangelho. A Segunda Leitura retirada da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, por sua vez, proclama o “tempo da reconciliação” com Deus, pregada por São Paulo com vistas à iminência da Parusia.

Na primeira Leitura – Jl 2,12-18 – ouvimos o convite: “Rasgai vossos corações, não as vestes” – Trata-se de uma santa exortação à penitência, ao jejum e à súplica orante. Evidentemente os judeus usando deste triple de santidade foram ouvidos. Penitência é voltar ao encontro de Deus. O jejum é tão geral que mesmo os recém-casados não são excusados pela lei judaica. Os sacerdotes articulam este ritmo comunitário. E Deus, cioso para “salvar a sua boa reputação” junto às nações, teve compaixão de seu povo.

A segunda leitura – 2Cor 5,20-6,2 – nos apresenta o tempo favorável. Apaixonado pelo ministério apostólico da reconciliação, quando São Paulo exorta os coríntios a aproveitar a reconciliação oferecida por Nosso Senhor Jesus Cristo, que assumiu nosso pecado e a não deixar passar a oportunidade já que agora é o tempo oportuno, ou seja, o tempo favorável para a mudança de vida.

O Evangelho – Mt 4,17 – sublinha a esmola, o jejum e a oração no oculto. Aqui temos três reflexões de Jesus com relação às boas obras judaicas – a esmola, a oração e o jejum – e de uma parte mais nova intercalada – o Pai Nosso. Essas boas obras devem ser feitas pelo seu valor intrínseco, que só Deus vê, e não para serem vistas pelos homens.

Estimados Irmãos,

A simbologia do número quarenta na Sagrada Escritura é vasta e rica de significados. Quarenta foram os dias em que Jesus jejuou e rezou no deserto(cf. Mt 4,3), antes de começar a sua vida pública de anúncio do Reino de Deus. Quarenta foram os dias em que Moisés permaneceu no monte em diálogo com Deus (cf. Ex 24,18), antes de receber as tábuas da Lei, que significavam a aliança de Deus com o povo. Quarenta anos foram o tempo em que o povo judeu perambulou pelo deserto rumo à Terra prometida (cf. At 7,36). Quarenta foram os dias que os ninivitas fizeram penitência de seus pecados (cf. Jn 3,4) e quarenta foram os dias que Jesus permaneceu na terra depois de ressuscitado, confirmando os apóstolos na continuidade de sua missão redentora e salvadora.

Assim vamos viver os quarenta dias da Quaresma deste ano lembrando de nossa condição de pecadores, em profundo jejum e continuada oração, aspirando um dia gozar das alegrias eternas, em perfeita sintonia na fidelidade à aliança com Deus, preparando-nos para uma nova missão, que é a purificação de nossos pecados e a conseqüente penitência, numa palavra especial: a conversão sincera, isto é, o retorno a Deus, que implica um voltar-se também para as necessidades do próximo.

Irmãos e Irmãs,

Ao impor as cinzas nos fiéis o Celebrante irá anunciar: “Lembra-te que és pó e ao pó tornarás” ou a outra antífona: “Convertei-vos e crede no evangelho!” A primeira alocução nos liga ao início da Sagrada Escritura, quando se diz que Deus fez o homem de barro, e lembra muito concretamente o que sobra do corpo humano. Viemos do barro e voltaremos ao pó. Mas sobre o barro que somos, Deus soprou sua vida divina (cf. Gn 2,7) e nele plantou sementes incorruptíveis (cf. 1 Pd 1,23). Nosso destino nunca foi o pó e nem será. Nosso destino é o horizonte da imortalidade, a vida eterna. Por isso, a ressurreição de Jesus é a garantida da nossa sobrevivência, se formos fiéis ao seu Evangelho de Salvação, conversão sincera e a reta mudança de vida e de comportamento.

As cinzas nos alertam para as nossas origens e para a nossa morte corporal, nossa origem divina e destino eterno.

O Tempo da Quaresma tem exatamente o significado de morrer para a velha vida e renascer para a vida da santidade. Ou como nos ensina São Paulo, Apóstolo das Gentes, de “nos despojar do homem velho e corrompido... para nos revestir do homem novo, criado segundo Deus, em justiça e verdadeira santidade”(cf. Ef 4,22-24).

Estimados amigos,

O homem, quando queima no fogo da penitência seus apetites mundanos e seus ídolos, o que sobra são cinzas castas, um coração puro, inteiramente pronto para, da morte, passar para a vida eterna. Devemos gemer de dor pelos dores dos pecados e erros cometidos. Por isso, as cinzas devem significar uma morte a um passado errado e o compromisso de uma vida nova para o dia de amanhã. Causa dor a muitos que, vendo o erro, mesmo procurando uma conversão sincera, não conseguem de muitos irmãos e irmãs de caminhada uma compreensão de sua conversão sincera e de seu propósito de vida. E isso brada aos céus, que pede que perdoemos os pecadores arrependidos quantas vezes forem necessárias, para que sejam associados ao Reino de Deus.

A cinza, simbolizando a dor e o sofrimento dos pecados, nos quer lembrar que a Quaresma quer ser um retorno aos valores duradouros. É um propício templo de reflexão sobre a transitoriedade das coisas, por mais ricas, preciosas e caras que sejam. As coisas deste mundo, lembra o salmista “são como a erva: de manhã floresce e viceja, de tarde murcha e seca”(cf. Sl. 90,6). Também a palavra e as promessas humanas passam. Viva e eterna é a palavra Salvadora de Deus (cf. 1Pd 1,23). O tempo da Quaresma, portanto, é propício para fazermos um balanço das coisas perecíveis e das coisas eternas.

Que as cinzas, impostas em sinal de Cruz na fronte de cada fiel, oriundo dos ramos do domingo de Ramos do ano precedente, nos lembre a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, nos lembrando que é preciso morrer para o pecado, porque é morrendo que se vive para a vida eterna.

Caros irmãos,

Com a Quaresma se inicia a Campanha da Fraternidade de 2011, tem como Tema: “FRATERNIDADE E VIDA NO PLANETA” e como Lema “A CRIAÇÃO GEME EM DORES DE PARTO”(Rm 8,22). A conscientização sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas está entre os principais objetivos da Campanha. A busca de ações que preservem a vida no planeta é outra meta da CF. A fé nos torna específicos numa discussão como essa. A nossa fundamentação é teológica e se baseia no próprio projeto de Deus para com a criação e para com o ser humano. A ecologia humana é um tema fundamental trazido pelo papa João Paulo II e, depois, por Bento XVI. De acordo com o papa, o centro do universo está na pessoa humana e, muitas vezes, as políticas públicas não levam em conta esses dois pontos, principalmente as pessoas mais vulneráveis, os mais pobres. A preocupação da Igreja com o meio ambiente está ligada à sua missão de defender a vida. A Igreja demonstra suas preocupações com o estado de nosso planeta, que precisa de cuidados para que continue a oferecer as condições necessárias para a vida nele instalada.

O Jesus que jejua, o Jesus que se dedica à oração, deve ser visto à luz do Cristo transfigurado. Toda a caminhada de conversão dos cristãos só tem sentido à luz da ressurreição pregustrada no Tabor. Celebremos, pois, com estas cinzas a vocação do ser humano, chamado à imortalidade feliz, contanto que realize o mistério pascal de morte e vida em sua vida terrena. Amém!

Oração da Campanha da Fraternidade 2011 CNBB

Senhor Deus, nosso Pai e Criador.
A beleza do universo revela a vossa grandeza,
A sabedoria e o amor com que fizestes todas as coisas,
E o eterno amor que tendes por todos nós.

Pecadores que somos, não respeitamos a vossa obra,
E o que era para ser garantia da vida está se tornando ameaça.
A beleza está sendo mudada em devastação,
E a morte mostra a sua presença no nosso planeta.

Que nesta quaresma nos convertamos
E vejamos que a criação geme em dores de parto,
Para que possa renascer segundo o vosso plano de amor,
Por meio da nossa mudança de mentalidade e de atitudes.

E, assim, como Maria, que meditava a vossa Palavra e a fazia vida,
Também nós, movidos pelos princípios do Evangelho,
Possamos celebrar na Páscoa do vosso Filho, nosso Senhor,
O ressurgimento do vosso projeto para todo o mundo.



Por: Padre Wagner Augusto Portugal


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