“Seja feita a tua vontade”
(cf. Mt 26,42).
(cf. Mt 26,42).
Meus queridos Irmãos,
Contemplamos na abertura da Semana Santa a figura do Messias Padecente. Neste ano litúrgico A podemos entrar no espírito do Evangelista Mateus ao narrar a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo(cf. Mt 26,14-27,66). Mateus ressalta o cumprimento, na vida e na morte de Jesus de Nazaré, do plano divino, expresso no Antigo Testamento. Neste sentido, podemos observar como Jesus realiza a figura do Servo Padecente de Deus, apresentada na primeira Leitura(cf. Is 50,4-7). Na cena do Getsêmani, por exemplo, Mateus é o único evangelista a colocar literalmente nos lábios de Jesus a expressão do Pai Nosso: “Seja feita a tua vontade”(cf. Mt 26,42).
Neste domingo lemos dois Evangelhos: um antes de começar a procissão de Ramos e outro na hora litúrgica costumeira. No primeiro Evangelho(cf. Mt 21,1-11) vamos repetir a cena dos judeus ao aclamar o Senhor como Cristo Senhor e Rei. E o segundo Evangelho(cf. Mt 26,14-27,66), o da Paixão, tem a tonalidade da morte. Morte que Mateus aponta ao Cristo como vitória da vida plena, vitória de quem tem a plenitude de todo o poder, no céu e na terra.
Vamos rezar neste domingo a partir da reflexão da Paixão do Senhor. Que os ramos que hoje trazemos conosco em nossas mãos nos levem ao Cristo mártir, vitorioso sobre a morte e que nos traz a vida plena. O Cristo que padece condenado por homens insanos, para garantir às criaturas humanas a libertação da injustiça e da morte e a posse da santidade e da vida. As palmas em nossas mãos querem significar que estamos prontos a fazer o mesmo itinerário, o mesmo horizonte, o mesmo caminho de Jesus.
Amigos e Amigas,
Mateus acentua que Jesus realiza o plano divino da salvação, expresso clara ou veladamente em todo o Antigo Testamento. Mateus atualiza as profecias em Jesus, daí a assertiva: “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?” (Cf. Sl 22). Quando os sumos sacerdotes pedem a Jesus que ele coloque a sua confiança em Deus, para que Deus o livre agora deste cálice, Mateus faz um paralelo entre a angústia e a confiança absoluta. Tudo estava programado na missão do Senhor. A angústia vai dando lugar à confiança em Deus, ao convite para louvar, glorificar e venerar o Senhor, que não abandona o atribulado, e passa a falar da realeza do senhor, diante de quem se prostrarão todos os poderosos do mundo, e do novo povo que há de nascer deste momento.
Presente, também está, a figura do Servo de Javé, que foi castigado e humilhado por Deus, foi transpassado e esmagado por causa de nossos crimes, embora não tivesse praticado nenhuma violência, nem houvesse falsidade em seus lábios. Depois de profundos sofrimentos a causa do Evangelho vai triunfar, todos serão justificados na ressurreição do Cristo.
Mateus nos deixa uma clara mensagem sobre a morte de Judas, depois de ter recebido trinta moedas de prata: Judas é o símbolo da pessoa que recebeu o Messias, mas o rejeita por interesses mesquinhos, e por isso será duramente julgado e condenado, mesmo percebendo seu erro. Por isso, não sejamos como Judas que traiu o Cristo por uma ninharia. Que o seu exemplo afaste de nós o desejo do ter, do poder e da disputa de poder, da inveja, da calúnia e da ausência de caridade.
Estimados amigos,
No trecho da Paixão que lemos a pouco fica clara a glorificação de Cristo sobre a morte. A morte não está sendo visa como uma vergonha, mas como um caminho de glória, uma “teofania”, isto é, uma manifestação de Deus. Várias vezes Jesus aplicou a si a expressão do Antigo Testamento: “Filho de Deus”(cf. Profeta Daniel 7,13s).
O Filho de Deus vai ser julgado e condenado, ele aproxima a expressão à glória divina. O Filho de Deus que será julgado é “um ser misterioso, conduzido por Deus sobre as nuvens ao céu para receber a realeza divina”(cf. Dn 7,13s).
A um messias meramente humano, os inteligentes poderiam compreender, adaptar-se a ele sem deixar os interesses pessoais. Mas a um Messias Divino, quem quisesse compreender e seguir deveria renunciar-se primeiro. Jesus mesmo prevenira: “Se alguém quiser me seguir, renuncie primeiro a si mesmo”(cf. Mc 8, 34).
A paixão foi decisiva para Jesus, para os discípulos, para os apóstolos e para a humanidade. A paixão inaugura um tempo novo, um novo mundo, um novo céu e uma nova terra.
No dia da morte de Jesus as trevas cobriram o mundo de meio dia até as quinze horas. No início da criação Deus cria a luz. Agora aquele que é a luz do mundo “entrega o seu espírito” para que uma nova luz, a luz da vida(cf. Jo 8,12) seja instalada no mundo, brilhe para toda a humanidade.
Na morte e da morte nasce a vida plena. A morte de Jesus não é a palavra final e nem o fim. A morte de Jesus é uma recreação, um novo começo. Ressuscitam mortos em torno do Calvário, e, dentro de três dias, o próprio Jesus, morto e sepultado, ressurgirá vitorioso.
O templo teve o seu véu rasgado de cima até embaixo: aqui reside a simbologia de um tempo novo. No novo templo a cortina não terá mais sentido, porque o Cristo assumiu o povo todo, que passou a ser o “corpo do Senhor”(cf. 1 Cor 12,27).
O novo templo é o próprio Cristo, a morada perfeita, ou somos todos nós(cf. 1Cor3,16), em fase de crescimento. O “santo dos Santos”, que marcava a presença de Deus no templo, deixa de ser um lugar para ser uma comunidade: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”(cf. Mt 18,20).
Meus queridos amigos,
A Igreja está com Jesus crucificado. Somente deste modo a Igreja Católica continua hoje oferecendo um sacrifício espiritual agradável ao Pai; quando, reconhecendo-se pecadora e sempre necessitada de salvação, apresenta não os próprios méritos e sucessos, mas a lembrança viva da sua Cabeça crucificada, do Filho bem-amado, de cuja morte e ressurreição recebe luz e força para ser fiel a sua missão. Aceitando com alegria o sofrimento que completa a paixão de seu Senhor e Mestre, a Igreja pode oferecer o sacrifício eucarístico, como voz dos pobres, dos humilhados, dos desafortunados e dos oprimidos, anunciando a esperança da libertação. E pode fazê-lo com tanto mais verdade, quanto mais houver escolhido não os caminhos do poder, do sucesso e do bem-estar, mas o da coragem para repelir a injustiça e compartilhar plenamente da sorte dos humildes.
Enquanto temos facilidade em ver as culpas ou fraquezas dos outros, não estamos nós corrompidos pelos mesmos males? Pensemos talvez que acusando os outros nos desculpamos a nós mesmos? Nesse caso, São Paulo nos diria que somos “indesculpáveis”(cf. Rm 2,1).
Caros fiéis,
Jesus aceitou todos os acontecimentos, conforme nos ensinou Paulo: “Humilhou-se, feito obediente até à morte e morte de Cruz; por isso Deus o exaltou e lhe deu um Nome que está acima de todo o nome, para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho de quantos há na terra, no céu e nos abismos”(cf. Fl. 2,8-10). Este despojamento de Jesus está resumido na segunda leitura que realiza na figura do Servo e que, por sua obediência até a morte – o amor radical que manifesta o Deus-Amor – é glorificado no senhorio de Deus.
Guardemos estas palmas que carregamos em nossos lares e oratórios, pois são sacramentais, isto é, objetos dignos de toda a nossa veneração e cujo uso respeitoso, como ensina a tradição da Igreja nas orações que emprega, podem trazer muitas graças de Deus às pessoas e lugares que os guardam. O exemplo de Cristo que nos ensina o caminho de libertação nos chama a viver a intensidade desta semana Santa. Vamos procurar realizar a missão de libertar o mundo pela fidelidade radical à vontade do Pai. Por isso, devemos “prestar-lhe ouvidos”- sentido original de obediência. Obedecer não é deserção da liberdade. Obedecer é unir nossa vontade a vontade do Pai, para realizar seu projeto de amor, e as outras vontades que estão no mesmo projeto. E é também dar ouvidos aos gritos dos injustiçados, que denuncia o pisoteamento do projeto de Deus.
Jesus foi fiel ao projeto do Pai. Deus esperava de Jesus fidelidade a seu plano de amor e que Ele agisse conforme este plano. Jesus foi fiel a esta missão até o fim. Com sua morte ele trouxe a vida. Que nós todos esperamos, pela nossa fé, a ressurreição final. Amém!
Por: Padre Wagner Augusto Portugal
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