segunda-feira, 7 de março de 2011

7º Domingo do Tempo Comum - A


“Confiei, Senhor, na vossa misericórdia; meu coração exulta porque me salvais. Cantarei ao Senhor pelo bem que me fez”(Sl 12,6).

Estamos entrando na quarta semana em que retornamos a leitura do Sermão da Montanha, uma das mais lindas e densas páginas da literatura bíblica e da literatura universal de todos os tempos e que nós poderíamos dizer que é o resumo dos Santos Evangelhos. Neste domingo nós iremos refletir sobre o perdão e o amor ao inimigo.

Caros irmãos,

A Primeira Leitura(At 6,1-7) apresenta a expansão da Igreja entre os helenistas. Continua a narração dos primórdios da ação eclesial da Igreja Católica. Seu crescimento evidentemente traz problemas. Além dos convertidos do judaísmo tradicional, entram agora na Igreja os convertidos, chamados de judeus-helenistas, que vieram das cidades comerciais da Grécia, Armênia, Síria, etc ou os pagãos convertidos anteriormente ao judaísmo, chamados de prosélitos. A organização da assistência às viúvas deste grupo provocou um novo serviço na comunidade: a instituição do diaconato. Cabe aos diáconos, prioritariamente, o “ministério dos pobres” em geral promovendo a ação social da Igreja.

Irmãos caríssimos,

São Pedro, na segunda leitura(1Pd 2,4-9) apresenta a Igreja, Templo de pedras vivas. Já o primeiro Pontífice apresenta Nosso Senhor Jesus Cristo como a pedra angular. A presente leitura é rica em imagens, que se determinam mutuamente. Cristo é a pedra viva, rejeitada, morta, mas ressuscitada por Deus; quem a ele se une na construção, é pedra viva também. Cristo é o sacrifício “espiritual”; quem adora a ele, o é também. Por isso, somos santificadores como ele: sacerdócio real.

Prezados irmãos,

No Evangelho deste domingo Jesus é o caminho e a revelação do Pai(Mt 5,38-48). A reflexão deste Evangelho nos leva a vermos que toda a perfeição consiste no amor. E o modelo da perfeição que nos é proposto é o próprio Pai do Céu. Não se trata de qualquer tipo de amor. Mas do amor gratuito, que é o amor com que Deus ama aos homens. Na Última Ceia, no sermão-testamento, Jesus manda: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!”(Jo 13,34), isto é, com amor inteiramente gratuito. Trata-se do amor sem interesses. Do amor que é capaz de perdoar as maiores ofensas sem pedir reparação ou garantias. Do amor que é a plenitude da justiça.

Observemos em nossa volta e olhemos como as pessoas se amam: nosso amor é sempre interesseiro. A vivência do amor gratuito, no entanto, é o teste mais seguro para saber se somos cristãos de fato ou apenas de nome.

Caros fiéis,

A Lei de Talião, adotada por Moisés no Livro do Êxodo(21,23-25) ensinava que “olho por olho, dente por dente”. Essa errônea lei até hoje é usada pelos mulçumanos que ensangüentam o mundo com o seu proselitismo, sem respeitar as culturas ocidentais, portanto cristã, e impondo a sua fé. Esta lei estabelece que o castigo seja exatamente igual à culpa. No fundo, a lei queria proteger o culpado contra o excesso de vingança do lesado; era, portanto, positiva mas as pessoas não conseguem entendê-la plenamente. Jesus vai bem mais longe: não tirem nem procurem nenhuma vingança para aqueles que vos perseguem, vos caluniam, querem vos matar.

Nesse domingo nós devemos nos perguntar quem é o nosso próximo? No tempo de Jesus os judeus pensavam que o próximo era apenas aquele que tinha o sangue hebreu e, em certas circunstâncias, os estrangeiros vizinhos a uma casa ou a uma causa judia. Neste último caso, o estrangeiro era “próximo” só para a casa vizinha e já não era mais para as outras casas. Em lugar nenhum do Antigo Testamento se diz que o inimigo deve ser odiado. Inimigo era toda a pessoa que não observasse ou não tivesse condições de observar estritamente as leis e os costumes das tradições. Mais vezes, no Evangelho, Jesus tocou no assunto “próximo” e “amigo/inimigo”. Jesus hoje nos manda copiar o comportamento do Pai: se o Pai faz nascer o sol sobre bons e maus(Mt 5,45), porque a criatura humana agiria diferente, querendo o sol só para os bons?

No tempo de Jesus os cobradores de impostos ou publicanos eram tidos como classe baixa e desprezível, porque a serviço dos estrangeiros colonizadores. Publicanos eram até odiados e eles deveriam se proteger mutuametne. Amavam-se por necessidade. Por isso Jesus diz que vós, fariseus, se comportais exatamente como os publicanos, porque o vosso amor é classista, é interesseiro. O vosso amor não é como o amor do Pai do Céu.

Caros fiéis,

Uma pergunta hoje nos incomoda: quem de nós já não se vingou? Quantas vezes já dissemos: “Você me paga!” ou “Bem feito!” quando um dos nossos desafetos sofreu algum revés. Nunca nos aconteceu de deixarmos de falar com determinada pessoa? Negar a palavra, no fundo, é uma forma requintada de vingança. Muitos dos que participam de nossas celebrações, que comungam ou que ajudam os sacerdotes são tomados de um coração com ódio e alimentam as vinganças, muitas vezes com as próprias mãos.

Nosso Senhor Jesus Cristo, no seu Evangelho hodierno, apresenta uma grande novidade moral em três passos. Três passos novos:

Primeiro passo: não vingar-se da ofensa recebida. Não importa o tamanho da ofensa e muito menos a qualidade.

Segundo passo: não fazer distinção na convivência entre os que nos fazem o bem e os que nos fazem o mal. Jesus não abre nenhuma exceção.

Terceiro passo: amar os que nos fazem o mal. Este último passo é das exigências mais difíceis do Evangelho.

Irmãos e Irmãs,

Os homens e mulheres de boa vontade fazem muitas coisas meritórias, até fáceis de serem feitas, como dar esmola, honrar pai e mãe, rezar pelos vivos e pelos defuntos, não ser orgulhoso, confessar os seus pecados, observar os dias santificados, ser puro de coração. Tudo isso até os pagãos fazem.

Agora vem a parte mais difícil: amar aqueles que nos batem no rosto, que sujam nosso nome, que nos prendem ou nos torturam, que nos rouba ou nos enganou. Somente com o amor gratuito e generoso, desinteressado, que vem do Cristo Ressuscitado, é que somos capazes de fazer isso, que não é impossível, ao contrário, com a graça de Deus nos ajuda a viver uma vida nova.

Jesus recebeu o beijo do traidor Judas e o chamou de amigo(Mt 26,50). Jesus é negado por Pedro e não lhe tira a chefia da Igreja(Jo 21,15-17). Jesus é abandonado pelos apóstolos e reparte com eles o dom de santificar e de salvar(Jo 20,21-23). Jesus é pregado na cruz, e perdoa os seus algozes(Lc 23,34). Jesus nos ensina a oferecer a outra face, quando alguém nos bate numa(Mt 26,52).

Devemos copiar e prestar atenção no ensinamento de Jesus. Devemos abandonar a violência e a vingança. Violência e vida se contradizem. Violência e paz se rejeitam. Violência e piedade jamais se ajoelharão no mesmo banco de oração.

Caros fiéis,

Para nós fica hoje a pergunta: Temos inimigos a perdoar? A fé lembra ao cristão os mandamentos de Deus e proclama o espírito das bem-aventuranças; convida a ser paciente e bondoso, a eliminar a inveja, o orgulho, a maledicência, a violência, ensina a tudo crer, tudo esperar, tudo sofrer, porque o amor nunca passará.

Jesus insiste conosco: ama teu inimigo. Oferece a outra face. Não paguemos o mal com o mal. Vamos nos deixar envolver no amor gratuito que Deus nos testemunhou em Jesus Cristo, dado por nós até o fim. Amém!

Por: Padre Wagner Augusto Portugal


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