8º Domingo do Tempo Comum - A
“O Senhor se tornou o meu apoio, libertou-me da angústia e me salvou porque me ama”(cf. Sl 17, 19s).
Jesus nos conclama na liturgia de hoje com grande poesia e sensatez: “olhai os lírios dos campos!”(Cf. Mt 6, 28).
Podemos dizer que Jesus não está pregando com esta admoestação a desocupação nem a despreocupação, mas apenas apontando a preocupação, aquilo que precede toda ocupação. Isso porque se a preocupação não está bem acertada, as nossas ocupações são todas em vão. Por isso, no início desta reflexão, devemos nos perguntar: Qual deve ser a nossa preocupação? Sem sombra de dúvida a nossa preocupação deve ser o REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA. Buscar o Reino de Deus, nosso único Senhor e Redentor, a quem servimos nesta liturgia como dispensadores dos seus mistérios sagrados. Por isso, na Santa Eucaristia, sentimos que nosso Deus não nos abandona e não nos esquece. Deus ama o seu povo eleito e quer o seu bem. Os animais vivem em conformidade com o seu instinto natural e sempre vivem bem. O homem e a mulher, com as complicações criadas pelo mundo moderno, com aquilo que poderíamos dizer ser preocupações incorretas e mal aplicadas, como dinheiro, comida, vestuário, carro, apartamento, celular, computador, e todos os confortos muitas vezes desnecessários, nos afastam da busca do rosto sereno e radioso do nosso Deus e muitas vezes nos torna homens e mulheres injustos, insensatos e que não vive a Justiça de Deus.
Meus irmãos,
A primeira Leitura, retirada do Livro de Isaías(Is 49,14-15), nos ensina o abandono em Deus. Por isso devemos ter consciência da advertência de Isaías ao povo que vivia no exílio: “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre?”(cf. Is 49, 15). É significativa esta afirmativa de Isaías. Se Deus nos criou e nos ama Ele nunca nos esquecerá. A confiança em Deus não pode ser vivida ou esperada de uma maneira mágica ou leviana. O povo que vivia no exílio pergunta ao profeta se a sua situação de abandono por causa da escravidão e da conseqüente falta de liberdade seria um esquecimento de Deus? O profeta responde que não, argumentando um absurdo: será que a mãe se esquece de seu bebê, esquece de amamentá-lo, dar-lhe banho, de cuidar dele quando ele chora? E o profeta responde mesmo que se ainda isso viesse a acontecer, Deus não esqueceria da mulher que foi displicente, em vista do amor de Deus pelas suas criaturas, que é o amor entranhável, como de uma mãe pelo seu filho. O homem também deve colaborar com Deus, fazendo o bem, olhando o irmão com caridade e amor. O amor de Deus não desiste de nós.
Irmãos e Irmãs,
Jesus, no Evangelho de hoje(Mt 6,24-34), dirige os seus olhares para os pássaros do céu e os lírios do campo. Entretanto, Jesus não nos ensina a desocupação ou o horror ao trabalho. Jesus, por sua vez, nos ensina a atitude certa para o serviço do Reino de Deus: procurar, acima de qualquer outra coisa, o Reino de Deus e a sua justiça. Então podemos contar com a providência de Deus, para que possamos cumprir a missão que Ele nos confia. Na liberdade e na simplicidade de homens suplicantes e confiantes no poder misericordioso de Deus, podemos sintetizar a parábola dos lírios. Quem procura estar, diuturnamente, a serviço do Reino receberá como graça de Deus o que for necessário para a vivência de uma vida digna.
Quem coloca a sua confiança inabalável em Deus vai na contramão de quem coloca a sua confiança nas riquezas, nas propriedades, no prestígio, no poder e no prazer. Na vida o importante é ter Deus em primeiro lugar. Mais considerável é ter, em primeiro lugar, Deus e receber, além dEle, o resto que precisamos e que nEle sempre providencia, quando nós confiamos Nele. Por isso, o Evangelho se opõe aos desocupados, que deixam tudo correr para não se incomodarem e por isso se tornam cúmplices daqueles que querem tudo para si.
A prioridade dos que são batizados e, portanto, seguidores de Cristo é empenhar-se, primeiramente, pelo serviço de Deus, da justiça e do amor que Jesus nos ensina e nos pede que imitemos.
O Evangelho de hoje, primeiro desdobramento da primeira bem-aventurança: “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o reino do céu” está profundamente ligado à distribuição da justiça. Por isso fica a pergunta: “A quem servir?”(cf. Mt 6,24). Servir a Deus e ao dinheiro é uma prática difícil ou irreconciliável. Servir significa fazer as vontades de alguém. E, aqui, de Deus. A vontade expressa no Evangelho é a busca do Reino de Deus, que é reino que partilha a vida para todos. Jesus havia dito que devemos colocar o nosso coração aonde está o tesouro. Basta descobrir qual é o tesouro que cada um carrega. Se a pessoa carrega o tesouro de Deus, se vive para Deus e para o seu Reino, essa pessoa busca o seu Reino e distribui a sua justiça.
Ao estressante afã pelo comer e pelo beber, Jesus contrapõe o exemplo das aves do céu, que não pautam sua existência pelo procedimento humano, que é aquele que conhecemos de semear, colher e armazenar. Por isso há um Pai que providencia o seu sustento, porque assim contempla seu projeto. Aqueles que se preocupam demasiadamente com o corpo e com a aparência, com a roupa e com o externo, bem como, em alimentos excessivos e em bebidas, Jesus chama atenção aos lírios do campo, que na sua singeleza, são mais bem vestidos por Deus do que todo o aparato luxuoso de Salomão(cf. Mt 6, 28-30 e 1Rs 10).
Sabemos que o ser humano vale muito mais do que os pássaros do céu e os lírios do campo. Por isso quem se ocupa das coisas de Deus, quem deseja ser seu discípulo-missionário e quem confia absolutamente em Deus, Jesus garante que se preocupar com o comer e o beber, é coisa dos pagãos que ignoram a grandeza de Deus.
Assim quando a justiça de Deus triunfar no mundo todos terão o suficiente e o necessário para uma vida digna, sem concentração. E comer, beber e vestir deixará de ser um afã estressante. O reino de Deus e sua justiça são a melhor bandeira para um mundo isento de desigualdades e cheio de privilégios, onde o pobre é cada vez mais massacrado e humilhado em sua dignidade de filho de Deus.
Caros irmãos,
A segunda leitura, da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios(1Cor 4,1-5), nos lembra a autenticidade do seu ministério. Autenticidade ministerial não significa justificação. São Paulo tem consciência que toda a sua história pessoal foi movida pela graça de Deus e que tudo na vida é graça sob graça que vem da Trindade. Os coríntios emitiam juízo apressado acerca de Paulo, julgamentos que o desabonaram como evangelizador. Sem ter em mãos um evangelho escrito, Paulo discorre sobre o não julguem de Jesus(Cf. Lc 6,37s).
O católico, apoiado nas palavras de Jesus, evita a concepção ingênua e mágica dos que confiam em Deus passivamente e no quietismo, e também a pretensão orgulhosa do ateu que risca o nome de Deus do seu horizonte. A confiança do cristão em Deus é total e sem reservas, mas não passiva e alienante. Pelo contrário, desta confiança precisamente nasce sua atividade, porque sabe que seu trabalho é continuação da obra criadora de Deus. É colaborador de Deus e, como Ele, “construtor para a eternidade”. Por isso, trabalha como se tudo dependesse de seu trabalho, e confia em Deus como se tudo dependesse de sua intervenção.
Por isso, irmãos e irmãs, neste domingo devemos nos curvar diante da grandeza do Reino de Deus e de sua Justiça, em que a nota fundamental é a partilha e a igualdade de todos. Confiantes no Deus que é nosso Redentor e nosso protetor, possamos escolher as coisas do alto, sem nos preocuparmos com as aparências, porque sempre devemos pautar nossa conduta como os “Lírios do Campo” que Deus, na sua beleza, o veste da singela da ternura divina. Confiança e fé no Senhor que nunca nos decepcionará.
Por: Padre Wagner Augusto Portugal
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