quinta-feira, 14 de julho de 2011

15º Domingo do Tempo Comum - ANO A

“Contemplarei, justificado, a vossa face;

e serei saciado quando se manifestar a vossa glória”

(cf. Sl.16,15).


Meus irmãos e minhas irmãs,

A Sagrada Liturgia nos levou, nos domingos precedentes, a reflexão do primeiro discurso de Jesus que foi o Sermão da Montanha e do seu segundo discurso que foi o Sermão Missionário. Mateus na sua exegese nos introduz hoje na leitura do terceiro discurso de Jesus que agrupa sete parábolas, que são as lições que Jesus nos ensina e que todos devemos aprender didaticamente a pedagogia do Reino de Deus.

Claras e simples as parábolas argumentam o dia a dia de todos os que querem seguir Jesus. Por isso Jesus hoje nos apresenta a Parábola da Palavra de Deus que é semeada no coração humano. Encontrará a Palavra Divina um coração disposto a acolhê-la? Como nós nos portamos diante da Palavra de Deus? Nós somos corações que são como terra boa ou fértil para acolher a Palavra de Deus? Que Deus nos ajude a podermos cantar com grande entusiasmo o que o salmista nos pede: “A semente caiu em terra boa e deu fruto”(cf. Sl. 64).

Assim, iluminados pela santa liturgia, este dia é uma ação de graças à mãe-terra pelas sementeiras, pela colheita, pela prodigalidade que vem de Deus em favor de seus filhos e filhas. Quem trabalha nas lides rurais entende bem o que significa terra boa, terreno pedregoso, beira de caminho ou espinheiros. Por isso, o Evangelho dá um passo audacioso: ele quer alcançar o “terreno” do coração humano e afirmar que a Palavra de Deus é sempre fecunda e boa, e necessariamente brotará, se encontrar em nossos corações as disposições necessárias para crescer e dar frutos. E isso nós encontramos claramente na palavra do Profeta Isaías “Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”(cf. Is 55,10-11).

Meus irmãos,

Jesus está à beira do Lago de Genesaré, sentado na barca, contempla a multidão na praia entre a água e o trigal que espigava. Era tempo de espera da colheita e o povo queria ouvi-lo e foi buscar no campo o tema de sua pregação e muitos de seus ouvintes tinham feito a colheita manual e sabiam do que acontecia com o fruto que caia entre os pedregulhos, ou seja, que não serviam para nada. Jesus vê aquela gente como o campo a ser semeado. Jesus é o semeador. A Palavra que o Pai lhe dera para ensinar(cf. Jo. 14,10) era a semente. Há tempos tentava plantar a Palavra de Deus naqueles corações. Por muitos motivos a maioria resistia, embora gostassem de ouvir o que Deus tinha para falar. Tinham o coração como pedra. Outros duvidaram dele e, entre o certo e o incerto, preferiam os seus negócios, os afazeres do mundo que muitas fezes são como espinheiros. Outros, ainda, não o levavam a sério, porque eram homens que sempre estavam na beira do caminho. Por fim, felizmente, havia os ouvintes que se comportavam como terra-boa, a exemplo dos apóstolos, e era nessa terra boa que Jesus queria multiplicar abundantemente o grão da doutrina e da graça que Ele era dispensador trazendo do Pai.

Meus irmãos,

“Palavra” no antigo testamento tem o sentido de chamada, de investidura de uma missão, de mensagem, de prenúncio, ou por fim, de acontecimento. No Novo Testamento, por sua vez, o substantivo “Palavra” ocorre 331 vezes, com os mais diversificados sentidos, como vocábulo, afirmação, dito, informação, pedido, notícia, discurso, exortação. O próprio Jesus é chamado simplesmente de Palavra de Deus, ou Verbo(cf. Jo 1,1), e quando se encarnou, se disse que a Palavra de Deus se fez carne e veio morar em nosso meio(cf. Jo. 1,14).

Assim, no Evangelho de hoje(cf. Mt 3,1-23), “palavra” terá uma mistura de sentidos, que vão desde as palavras pronunciadas por Jesus até a sua pessoa, passando pelos sinais – que chamamos de milagres – que comprovam a sua messianidade. Sua doutrina, expressa em palavras humanas, está ligada ao mistério divino-humano de sua pessoa. Sua doutrina se expressa pela Santíssima Trindade(cf. Jo 14.15.26), a paternidade de Deus(cf. Jo 20,17), o julgamento final da criatura humana(cf. Mt. 25, 31-46); ora por uma exortação: amai-vos uns aos outros(cf. Jo. 13,34); perdoai-vos as ofensas(cf. Lc. 17,4); amai vossos inimigos(cf. Mt. 5,44); ora ainda por um pedido: que todos sejam um(cf. Jo 17,21); seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não(cf. Mt 5,37); aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração(cf. Mt 11, 29). Em vista de tudo isso está na centralidade da pregação a PESSOA DE JESUS, O SALVADOR.

Meus caros irmãos,

Partindo da pessoa de Jesus, de sua pregação, cada um de nós, de acordo com o seu empenho, poderá produzir bons frutos. A semente que nos é apresentada é boa, porque é garantida por Deus. Se a semente de Deus criou o mundo e enviou o seu Filho Unigênito para recriá-lo a problemática da liturgia de hoje está na terra que recebe a semente, ou seja, no coração de cada um de nós. A solução desta plantação é de nossa inteira responsabilidade, se a semente vai ou não vai frutificar. Deus realmente é misericordioso e não quer o mal de ninguém. Mas nos concede o livre arbítrio para receber ou não receber a grande semente, Jesus, Mestre e Senhor. Por isso Deus nos chama em espírito e verdade. Na consciência reta de aquiescer ao seu convite, respeitando a nossa liberdade, somos chamados a voltarmos para o sumo BEM, ser terra boa, fazendo a distinção do que é bom e do que é mal ou perverso. A parábola de hoje é um elogio à Palavra divina, sempre fecunda e eficaz, e um elogio à liberdade humana, onipotente dentro dos limites impostos a toda e qualquer criatura. Nossas metas e sonhos podem ser insondáveis, mas nossa realidade tem margens como o rio. Cristão autenticamente responsável é aquele que conhece as suas condições, os seus limites, remove as pedras e os abrolhos, que se atravessam na vida cotidiana, abrindo-se como terra boa às sementes da graça divina e cultiva o campo de seu coração e produz os frutos queridos por Deus(cf. Jo 15,5).

Caros fiéis,

A Palavra de Deus é eficaz: faz frutificar a gente(cf. Primeira Leitura – Is 55,10-11. Este trecho é uma chave de interpretação de tudo o que Deus faz por sua gente. Conclui o segundo Isaías – Is 40-55 – retomando a idéia do início: a Palavra de Deus permanece sempre. A Palavra de Deus e sua eterna vontade, que no tempo oportuno sai de seu silêncio majestoso e realiza a sua missão, como a chuva caindo do céu faz frutificar a terra.

Irmãos e Irmãs,

A Segunda Leitura – Rm 8,18-23, nos apresenta que a criação anseia pela manifestação dos filhos de Deus. Existir, para o homem, é sofrer. No seu sofrimento, reconhece o gemido da criação ainda não libertada. Talvez, por isso mesmo, trate de reprimir este gemido da criação ainda não libertada. Talvez, por isso mesmo, trate de reprimir este gemido pelo mito da transformação tecnológica. Mas não é sufocando a natureza e a criação que o homem se realiza e sim, intermediando, como sacerdote, seu pleno desabrochamento. No homem, a criação deve participar da realidade divina, da “liberdade dos filhos de Deus”. O sofrimento solidário do homem e da natureza são as dores de parto da nova criação. Como estamos celebrando o ano Paulino a “palavra de Paulo” hoje, tirada da sua epístola aos Romanos, nos apresenta o tema da vivificação do Espírito, a vida nova em Cristo. Paulo nos diz que recebemos o Espírito de Cristo, que clama em nós: “Abbá, Pai”. O Espírito que nos transforma em filhos adotivos, co-herdeiros com Cristo, chamados para a glória com ele(cf. Rm 8,14-17). Mas ainda não se revelou em nós esta glória, embora já tenhamos recebido o Espírito como primícia. Por isso, nos e toda a criação estamos ansiando por essa plenitude, como uma mulher em dores de parto: o filho está aí, mas até que ele se manifeste, ela tem que passar pelo trabalho do parto. É essa a situação nossa e de nosso mundo, que é solidário conosco.

Somos chamados a um crescimento da fé e da salvação. Por isso vamos promover o encontro de uma semente garantida – a “Palavra de Deus” – com uma terra boa, acolhedora e generosa. Combatendo os motivos de endurecimento que nos abre a recebermos a Palavra fortificada em terra boa, como a dominação ideológica, a alienação, o consumismo, o culto da riqueza, do poder e do prazer, deixando de lado os fascínios de desejo, Deus nos chama a viver a autenticidade da simplicidade, a educação libertadora com olhos para o Evangelho.

Diante de corações duros, inconstantes, materialistas, Jesus nos chama a sermos corações abertos e disponíveis para escutar a sua Palavra de salvação. Se assim vivemos a Palavra, que é Jesus, será acolhida em cada um de nós como a chuva do céu, que penetra no chão e faz a semente da Palavra de Deus semear em nossos corações desejosos e abertos a fazer a sua vontade, que é sempre de santidade.


Por: Padre Wagner Augusto Portugal










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